6 de Abril de 2019 às 08:00
Você já se imaginou correndo os exatos 42,195 km de uma maratona? É uma canseira danada. Requer muito fôlego e muito treino. E correr uma ultramaratona, então? Aí a coisa fica feia de verdade. As provas de ultramaratona –ainda mais as chamadas trail run, em montanhas, com muita subida e trilhas técnicas– vêm se popularizando cada vez mais, mundo afora, com distâncias de 50 km, 70, 100, 225 e até muito mais de 300 km.
Agora, tente imaginar como devem ser os treinos para essas provas.
Dois corredores amadores de Ubatuba, a cabeleireira Karina Ferreira, de 40 anos, e o jornalista Paulão Gastão das Dores (apelido de Paulo Oliveira), de 62, resolveram sair do mundo da imaginação para entrar de cabeça (modo de dizer, claro) e treinar duro para participar dia 13 de abril de uma das mais importantes competições do gênero na América do Sul, a Patagonia Run Mountain Hard Wear, que acontece há dez anos no lado argentino da Patagônia. É a primeira vez que atletas de Ubatuba participam dessa prova. Essa é a segunda ultra dos dois, que já têm no currículo dezenas de provas, a maioria delas de aventura e com distâncias acima dos 21 km, além de várias maratonas.
Eles escolheram a distância oficial de 70 km (na realidade, 74 km). A Patagonia Run MHW contempla também distâncias de submaratona (10 km e 21 km), maratona (42 km) e outras de ultramaratona (110 km e 160 km).
Além de Karina e Paulão, o grupo que irá representar Ubatuba na Patagônia inclui Alexandra Abech e Marcos Eras, inscritos, respectivamente, nas provas de 21 km e de 42 km.
Na distância escolhida pelos dois amigos ultramaratonistas, o total acumulado de subidas equivale a meio Monte Everest: 4.400 m. O ponto mais alto da prova está a quase 1.800 m, algo como subir o nosso Pico do Corcovado, que tem cerca de 1.200 m, e ainda ter de escalar mais uns 600 m.
Desde que começaram a treinar especificamente para essa prova (até o final do ano, eles estão inscritos também em outras nove competições, todas pedreiras), em agosto do ano passado, cada um vem colecionando números respeitáveis. O total de subida de cada atleta acumulada nesse período bateu na casa dos 37.100 metros. Para se ter uma ideia, isso representa 4,2 vezes a altitude do ponto mais alto do planeta, justamente o Monte Everest, com 8.848 m.
A distância percorrida por eles nos treinos também impressiona, chegando a um total de 1.575 km, algo como sair de Ubatuba de carro, ir até Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e ainda rodar mais uns 200 km adiante. Só em março cada um correu total de cerca de 300 km. O tempo dispendido nos treinos também derruba queixo: é suficiente para assistir a cerca de 435 séries de TV com 45 minutos de duração cada uma (total de 196 horas).
Os treinos envolveram várias praias da cidade, regiões com muita subida, como Ponta Grossa, Casanga e Monte Valério, até a serra da Oswaldo Cruz e a estrada que liga Paraty a Cunha, além de locais em grande altitude (mais de 2.300 m) em Campos do Jordão. Nos últimos dois meses, alguns treinos chegaram perto da distância da prova, por volta de 60 km.
Como essa prova é de autossuficiência, o atleta é obrigado a levar em mochila às costas tudo de que vai precisar durante a corrida, como água, isotônicos, primeiros socorros, bastões de caminhada, comida, roupas sobressalentes, lanternas etc.
Muita força nessa hora
Mas isso não é tudo. Além de correr, dá-lhe malhação na academia Ubatuba Outdoor Fitness, pilates, seções de fisioterapia e massagem e acompanhamento nutricional.
A treinadora do grupo, Luciana Hidalgo, enfatizou nos treinos o trabalho de força e de resistência, com muitas subidas, além do controle mental, apontado como fator preponderante para ajudar o atleta a suportar o enorme desgaste físico e também a encarar as adversidades que vai encontrar pelo caminho, como clima muito frio (pode fazer até 5 graus negativos no momento da largada, na madrugada), neve, chuva e ventos fortes.
Luciana tem mais de 15 anos de carreira profissional e mais de 30 cursos específicos para a corrida. Ainda conta com sua experiência como atleta amadora de diversas modalidades de endurance, como maratona de MTB, Trail Run, Natação em Águas Abertas e Triathlon Cross Country, este último, com participação no Mundial do Havaí em 2014. Além de muitas horas de estudo, pois, segundo ela, a modalidade ainda é recente e não há tantas informações fidedignas, não se aplicando uma única técnica de treinamento para todos, e sim uma específica para cada atleta.
“Com todo esse suporte e dedicação, podemos acreditar que essa equipe fará um grande resultado”, afirma a treinadora. “Afinal de contas, aliar uma vida com rotinas de trabalho e família, com treinamentos tão longos e extenuantes, já faz dos nossos representantes grandes símbolos do esporte. O esporte que inclui a todos, sendo necessário apenas dar o primeiro passo.”
Mais de 20 horas correndo
Na edição do ano passado, o primeiro colocado nos 70 km, categoria masculina, completou o percurso em 9 horas, 16 minutos e 40 segundos. O último homem (260º colocado) a cruzar o pórtico de chegada precisou de bem mais que o dobro disso: 20:48:42.
Entre as mulheres, a primeira colocada chegou em 10:51:23. A última (110ª colocada), em 20:59:01.
Os dois atletas de Ubatuba preferem não falar em quanto tempo acreditam que serão capazes de completar a prova.
Você ficou interessado em conhecer mais a fundo a Patagonia Run Mountain Hard Wear? Visite o site:https://www.patagoniarun.com/

FONTE....................JORNAL A CIDADE DE UBATUBA E REGIAO..
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