Líder do Mundial de Surfe apadrinha entidade há cinco anos em sua terra natal, no litoral norte de São Paulo, e serve de inspiração para as crianças e jovens atendidas pelo projeto Namaskar em Ubatuba SP
A mata da serra é o pano de fundo da realidade nas ruas do bairro Sesmaria, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Ao andar pelas vias de terra batida, em que buracos são incontáveis, é nítida a necessidade de várias melhorias.
Em meio a esse cenário, destaca-se um portão todo colorido na rua Del Rey, nº 186. Em frente ao imóvel, há uma kombi também com cores vivas e que carrega uma marca nas portas: "#GO77".
O imóvel e o veículo pertencem ao Projeto Namaskar, entidade social que atende crianças e jovens do bairro. A marca nas portas da kombi faz referência ao surfista Filipe Toledo, líder do mundial de surfe, que utiliza o número 77 no circuito. Filipinho é natural de Ubatuba e ajuda o projeto há cinco anos. No ano passado, o surfista repassou à entidade a premiação que recebeu do evento na piscina de Kelly Slater. A verba de 7.500 dólares serviu para ajudar na reforma da kombi e outras necessidades do projeto. Por isso, por iniciativa dos gestores da entidade, a marca foi colocada nas portas do veículo como uma forma de homenagem e agradecimento.
Nessa última quarta-feira, 5, a kombi colorida andou pelas ruas do Sesmaria. Desviava dos buracos com o destino à praia do Perequê-Açú, onde as crianças e os jovens que estavam dentro do veículo fariam aulas de surfe. O motorista era o professor da oficina, Marcos Santos, mais conhecido como Marquito. Antes da compra do veículo, ele e outros professores usavam os próprios carros para carregar os alunos.
A oficina de surfe é uma das 14 que são oferecidas pela entidade, que atende 300 crianças e jovens, com idades entre 5 e 20 anos, e pretende ampliar esse número para 400 até o fim do ano. O projeto existe há 13 anos, mas ganhou impulso com a chegada de Filipinho como padrinho.
– Com essa história do Filipe começar ajudar o Namaskar, foi dando visibilidade. Me impressionou bastante é que outros jovens nos procuraram. Uma das características de projeto social é atrair bastante idosos. Mas esse perfil do Filipe de ser surfista, jovem, quebrou um pouco isso e mostrou que todo mundo pode ajudar. Acabamos conseguindo grafiteiro para fazer a arte do projeto, voluntários para dar aulas de inglês. Começou ampliar muito o leque de voluntários, de gente que doa, seja um ônibus maior para um transporte ou seja bloco de construção para ampliarmos o espaço. Tudo isso acabou fazendo a máquina funcionar melhor – destacou a assistente social e coordenadora técnica do projeto, Erika Lunardi Longo.
Inspiração para jovens
As cores chamativas do portão também estão no interior da entidade. Ali, as paredes carregam vários tons. Logo da entrada, é possível ver na parede ao fundo a imagem de Filipinho com ondas coloridas ao lado. É um mix de cores, assim como de oficinas gratuitas. Além de surfe, o local oferece aulas de música, ballet, informática, jiu-jitsu, entre outras. Há também oficinas aos pais para ensinar meios de gerar renda extra, como de corte e costura.
Filipinho conheceu o projeto por meio da coordenador Erika Lunardi, que é amiga de longa data da família do surfista. Nesses cinco anos, já ajudou o projeto financeiramente outras vezes além da premiação do evento na piscina do Kelly Slater. Mas o suporte não é apenas material. Ele costuma também enviar mensagens em vídeos para motivar as crianças e os jovens. Por meio do exemplo, tem conquistado jovens que seguem caminhos que não são o surfe.
– Vejo como inspiração (o projeto). Muitas pessoas que poderiam estar lá fora, hoje estão aqui treinando junto comigo. A maioria do pessoal que está aqui hoje começou junto comigo, aqui dentro. Tira pessoas da rua para dentro – disse Carlos Alberto Fernandes, de 16 anos, que faz aulas de jiu-jitsu.
– É legal ter ele como padrinho no projeto. Nos ajuda pra caramba. Gosto do surfe também. Surfava antes, mas não me identifiquei. Fiquei aqui no jiu-jitsu mesmo. Do mesmo jeito que ele está lá, um dia também podemos chegar – acrescentou.
Em outra sala, o jovem Anderson Gonçalves, de 15 anos, está tocando teclado na oficina de música. Ele é atendido pelo projeto há dez anos e vê na música um caminho para o futuro.
– Vim de Minas Gerais e apareceu a história de ensaiar com o Dutra (professor de música). Antes nem era aqui no projeto, era na rua, tocando lata, se divertindo. Eu ficava em casa brincando o dia todo de bater lata. Era muito legal. Como progredimos bastante com as músicas, com os instrumentos que conseguiram comprar, começou melhorar. (...) Pretendo levar isso para a vida toda, seguir uma carreira de música, com meus amigos e fazer várias coisas legais. Vou virar músico – afirmou.
Namaskar, que vem de Namaskara em indiano, é uma saudação de grande sentimento de respeito e gratidão. O projeto ganhou esse nome porque é filiado à AMURT-AMURTEL, uma organização mundial da Índia que está presente em vários países. A entidade foi fundada em Ubatuba por um casal de empresários, que comprou o terreno e construiu as instalações.
O projeto se mantém por meio de verbas da empresa do casal fundador, com repasses do governo federal e estadual por meio da prefeitura de Ubatuba, além de outros parceiros e do surfista Filipinho. Alguns funcionários são contratados, mas existem também voluntários. Ao todo, o quadro de colaboradores são de 30 pessoas para atender, num local cheio de cores, a comunidade.
Líder do ranking mundial, Filipe Toledo estreia nesta sexta-feira, 7, nas ondas artificiais da piscina idealizada pelo americano Kelly Slater em Lemoore, na Califórnia, Estados Unidos, pela oitava etapa da temporada.
* Colaboraram Bruno Pellegrine e André Bias, da TV Vanguarda
Comentários
Postar um comentário