Em um mundo dominado pelas redes sociais e por aplicativos, grupos de amigos no WhatsApp (aplicativo de mensagens instantâneas entre celulares) se tornaram algo comum. Em Ubatuba, Litoral Norte de São Paulo, há um formado principalmente por surfistas que chama a atenção pelo nome: "Projac". O título, em alusão ao centro de produções da Rede Globo no Rio de Janeiro, foi escolhido pelos criadores porque, segundo eles, o grupo é recheado de artistas. Tudo não se passa de uma brincadeira, obviamente. Mas, recentemente, um integrante do "Projac" realmente tem atraído os holofotes: Filipe Toledo, campeão da primeira etapa do WCT, o mundial de surfe.
(Foto: WSL / Kirstin Scholtz)
Natural de Ubatuba, Filipinho, como é mais conhecido, marca presença constante no grupo. Ali, por meio das trocas de mensagens, diverte-se com os amigos de infância, troca experiências e recebe apoio antes de encarar as baterias. Quando o surfista se preparava para disputar a etapa de abertura do Mundial, por exemplo, a movimentação no "Projac" era para desejar boa sorte ao amigo artista.
– Como ele fica muito tempo fora, temos o nosso grupo. Sempre mandamos coisas engraçadas. Estamos sempre lá torcendo por ele. Quando ele sai da bateria, vai lá, vê aquele monte de mensagem e sente a energia positiva. Acho que é como um incentivo. Uma forma também de mantermos o contato – comenta Yuri Aguiar.
A energia positiva para Filipe Toledo é enviada com sinceridade pelos amigos. A conquista do brasileiro na primeira etapa do Mundial é comemorada por todos. Isso porque, além de verem potencial no surfista há alguns anos, sentem que Toledo continua o mesmo de quando morava na cidade e não era preciso recorrer à tecnologia para tê-lo mais perto.
– É uma vitória muito positiva para a carreira dele. Ficamos muito felizes por este momento que ele está vivendo. Nós que acompanhamos a carreira dele desde pequeno, sabemos que o Filipe sempre foi muito especial. Sempre foi precoce. Lembro que competíamos no amador e ele, com 14 anos, foi campeão paulista de 18 anos. Estava sempre em categorias acima. É uma coisa dele mesmo. É um cara que sempre foi muito precoce. Hoje está conquistando o que ele merece. É algo que emociona. Um moleque muito talentoso, dedicado. Fico muito feliz em poder acompanhar. Mesmo de longe, podemos nos manter sintonizados – afirmou Pedro Aguiar.
O CORUJITO
(Foto: Reprodução/Instagram)
Nessas trocas de mensagens no "Projac", existem os assuntos publicáveis e, logicamente, os não-publicáveis. As histórias vividas pelos amigos na infância, por exemplo, são recordadas ali também. Algumas de Filipe Toledo eles não se incomodam de torná-las públicas. O apelido do surfista quando criança, que ainda o acompanha, é entregue por eles.
Por dizerem que Filipinho tinha uma cabeça grande quando criança, com olhos arregalados, passaram a chamá-lo de "Corujito", personagem de um desenho animado. O apelido é dito de forma carinhosa. Segundo eles, o surfista não se incomoda de ser chamado desta forma.
E para os amigos de Filipinho, o atleta que é o caçula no WCT não é precoce apenas no mundo do surfe. Quando criança, também mostrava ser "terrível" quando o assunto era as mulheres.
– Ele era precoce no surfe, mas também com a mulherada. Pequeno, já ficava com as mulheres mais velhas. A gente falava: “esse moleque é terrível”. O Filipinho é um moleque de coração enorme. Sempre que está aqui, chama para surfar junto. Gostamos de vir muito na Vermelhinha, que brincamos que é nosso quintal de casa. É uma onda que proporciona várias manobras, fora a vibe, o clima. Ele reúne os amigos e ficamos aqui trocando ideia. Ultimamente, tem sido mais difícil ele vir. Até porque está morando na Califórnia, os campeonatos são mais pelo mundo. Mas sempre que ele vem, procuramos estar juntos – destaca Pedro Aguiar.
ESPELHO PARA SURFISTAS
A praia Vermelha do Centro, de Ubatuba, costuma ser o ponto de encontro dos amigos quando Filipinho está na cidade natal. Lá também é local onde jovens com a mesma idade que o surfista ou mais novos treinam para tentar chegar onde o conterrâneo chegou. No município, há um projeto chamado "Vida Surfe" que visa preparar garotos para competir.
São aproximadamente dez garotos selecionados, com idades entre 15 e 19 anos. Não recebem salários, mas têm equipamentos e aulas bancadas pelo Instituto Vida Mar, que criou o projeto e o mantém com a ajuda de empresas por meio da Lei de Incentivo Fiscal (LIF). O professor Everton Silva, que inclusive chegou a ser árbitro em competições amadoras que Filipinho disputou, destaca a importância do título mundial de Gabriel Medina e a recente conquista do ubatubense para o desenvolvimento do esporte no país.
– Essa nova geração de Ubatuba cresceu praticamente junta. Participaram dos campeonatos das categorias de base juntos. Com certeza, o Filipe está puxando essa galera para acreditar que é possível. O surfe brasileiro está vivendo essa nova fase. O Brasil tem uma geração antiga, que é importante citar. Eles que bateram na porta lá e começaram tudo isso. Essa galera nunca teve essa estrutura que esta nova geração tem para poder conseguir chegar lá. O projeto proporciona a estrutura para esta nova geração. Eles vão seguir os passos do Filipinho em breve, com certeza – comentou.
A expectativa de Silva também é a dos jovens que integram o projeto. Quatro deles disputam neste ano o WQS, que é a divisão de acesso à elite do surfe mundial. Tales Araújo, de 19 anos, é um deles.
– O Filipe é um cara que todo mundo se espelha. É muito humilde. Um cara que abriu mão de muita coisa para estar onde ele está. Mostrou qual o caminho para nós, e tentamos seguir esse caminho. É um cara que sempre quando vem para cá, reúne a galera, fala que é possível. Ele ganhando, é como um amigo mesmo ganhar um campeonato. A gente vê que é possível chegar lá. É difícil, só que ele mostrou que é possível. É muito importante, porque é o líder da nossa geração. Tem um talento excepcional – ressaltou.
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